
Redução da velocidade no Eixão vai potencializar o caos no trânsito em todo o DF
março 20, 2025Por Luciano Lima
Sabe aquele velho ditado popular “cobre-se um santo para descobrir outro”? É exatamente o que os “especialistas” estão propondo com a ideia de baixar a velocidade do Eixão Sul/Norte de 80 Km/h para 60 Km/h. Ou seja, o caos será implantado no já caótico sistema de mobilidade urbana de Brasília, uma cidade que tinha tudo para ser um exemplo para todo o Brasil.
O Eixão é uma via que recebe cerca de 200 mil veículos diariamente e nos horários de maior movimento a velocidade da via, na prática, já é de 60 km/h ou menos ainda. Já imaginou o Eixão tendo a sua velocidade máxima reduzida? O reflexo seria imediato em praticamente todas as vias do Distrito Federal. É o preço que pagamos por não termos priorizado uma cidade para pessoas.
O Eixão é a rodovia DF-002 e possui 14km de extensão. É uma via expressa de sete faixas, com três em cada sentido e uma, no meio delas, que não é usada como via e é conhecida como “faixa presidencial”. São pistas sem semáforos, limite de 80 km/h (onde se chega facilmente aos 100 km) e travessia de pedestres por passagens subterrâneas. Era um avanço para época. Um símbolo do modernismo!
No entanto, muitos vão dizer que é inconcebível, nos dias de hoje, uma via de alta velocidade que corte a cidade de norte a sul. Mas como mudar essa situação se não priorizamos o transportes de massa com a devida qualidade? O transporte público de Brasília é considerado um dos piores do Brasil. A capital do Brasil infelizmente faz políticas públicas que priorizam o transporte individual. O Distrito Federal já tem mais de 2 milhões de veículos em circulação e o excesso de carros já está causando graves problemas na mobilidade e na segurança.
Portanto, é preciso que muita coisa ainda seja mudada para pensarmos em uma redução de velocidade no Eixão, que no seu formato atual não é uma via para travessia de pedestres. Aliás, assisti um comentário estarrecedor em um importante programa de TV matinal de Brasília onde um desses “especialistas” fez um infeliz comentário sobre a diferença entre ser atropelado por veículo a 80 km e outro a 60 km. Segundo o “especialista”, a 60 km o atropelamento poderia não causar a morte do pedestre. Inacreditável!
E o que temos para “agora”? É inviável alterar a velocidade média do Eixão. A fluidez do trânsito seria imensamente comprometida. É preciso cobrar do Governo do Distrito Federal (GDF) mais investimentos em segurança pública e a revitalização das passarelas subterrâneas. O governo pode até pensar em ampliar o número de passarelas.
Para os pedestres, o Eixão só seria seguro com a colocação de semáforos e faixas de pedestres, o que seria totalmente inconcebível no atual cenário da mobilidade urbana da nossa cidade.
Enquanto não tivermos gestores que dêem prioridade para minimizar com a nossa “vocação automotiva”, não teremos nunca uma cidade para as pessoas. Lembrando que o trânsito pode influenciar negativamente na qualidade de vida das pessoas, afetando na saúde, na produtividade, além , é claro, na mobilidade.
*Luciano Lima é historiador, jornalista e radialista
Péssima proposta!