A batalha das ‘fake news’
maio 2, 2023A terça-feira começou quente para tirar a poeira do feriado de 01 de maio. Em frente ao Congresso Nacional, 35 mochilas vazias relembram as mortes de crianças dentro de escolas que aconteceram desde 2012 no Brasil. A manifestação da Avaaz (comunidade internacional de mobilização on line) serve para pedir a aprovação do Projeto de Lei 2630/2020 em nome de maior segurança no meio digital. O argumento é que nos tornamos mais violentos depois que a produção de conteúdo passou a ser acessível a todos e as empresas que dominam o meio digital não são claras quanto ao funcionamento dos algoritmos (e como alteram o que impacta e o que não impacta nas redes). Além disso, as bigtechs não se mostram interessadas em remover conteúdos que sejam flagrantemente violentos ou criminosos, como o caso de quem avisa que vai cometer massacres em escolas.
O que está em jogo
Estamos falando de uma tentativa de regulação do meio digital. Isso vale para o conteúdo e vale também para a monetização. Aqui entram desde produtores independentes como grandes empresas de mídia que viram seus faturamentos despencarem com a publicidade muito mais acessível nas redes sociais. Por isso, as empresas tradicionais têm muito interesse no tema. Não só elas. Segmentos políticos inteiros cresceram espalhando conteúdo (verídico ou não) e uma regulação pode mexer neste ponto sensível. Por isso, há que diga que regular é o mesmo que censurar. Com a mesma força, discursa quem diz que é preciso regular e que não dá para se ter uma terra sem lei dentro de cada aparelho celular; ou melhor uma terra onde a lei é desconhecida e pode ser alterada conforme o humor do dono da plataforma.
E hoje?
Há um movimento para evitar a votação do projeto. O Google começou uma campanha contra o projeto. O buscador estampou as frases “a internet pode piorar” e “o PL das fake news pode piorar a confusão entre o que é verdade e o que é mentira no Brasil”, no dia de ontem. É bom lembrar que o Google detém 96% dos acessos para buscas do Planeta; é um monopólio. O segundo colocado tem 2% do mercado. É preciso ser um pouco simplório – para dizer o mínimo – para levar a ameaça em consideração. Sem entrar no mérito de cada detalhe do projeto de lei em discussão. Antes disso, é importante jogar luz sobre um ponto fundamental.
Vamos pensar juntos
Imagine um negócio que não revela como funciona seus mecanismos, que estabelece as próprias leis e que pode alterar todas as configurações de tudo como bem entender. Um motor de busca pode ser mais rápido, mais lento, exibir coisas úteis ou ofensivas, valorizar mais algo de bom gosto ou publicações bizarras sem que qualquer instrumento possa barrar. O absoluto controle sobre a exposição de conteúdos deixa as bigtechs em posição totalmente suspeita. Exemplo: uma decisão de um governo que não sega do agrado do dono do Google pode fazer com que ele aumente a visualização de conteúdo contrário ao governo, não? O inverso vale também. Conteúdo mentiroso pode ser promovido para aparecer nas primeiras linhas de pesquisa. E mais: quem garante que, ao ser contrariado, o empresário não pode determinar que o sistema demore mais a publicar, atrase conteúdos propositalmente para depois dizer: “eu avisei que internet iria piorar com determinada medida…” Enfim, o funcionamento não é de conhecimento público e isso é assustador.
O que é possível fazer?
O VP é só um blog e não está defendendo esse texto do PL 2630/2020. Os efeitos desse texto no longo prazo não podem ser avaliados imediatamente. No entanto, é importante dizer: algo nível de regulação é fundamental. Não dá para deixar empresas privadas terem mais poder do que países inteiros. Há diversos argumentos para isso, inclusive, políticos ou sociológicos que tocam na razão para termos organizado a vida em sociedade. Não vem ao caso aqui. Uma sugestão para que diminuamos a dependência do digital: será que nós precisamos olhar tantas vezes por dia as nossas redes sociais? Será que precisamos consumir tanto conteúdo? Será todo conteúdo útil?
“ah.. mas o VP é um blog e está na internet”
É verdade, mas o VP não quer dominar o mundo. No máximo, queremos ser relevantes para um consumo comedido de conteúdo político. Use com moderação. Nossa equipe está usando buscadores e navegadores alternativos e de ótimo desempenho. E caso a sociedade decida ter menos conteúdo digital, não lamentaríamos voltar a ser de papel para ser levado ou colado em um poste. Tudo bem. O importante é seguir sem perder a essência.
Foto: reprodução Avaaz Twitter



